segunda-feira, 25 de junho de 2012

Taxista: profissão perigo




O assassinato de um taxista em Goiânia, na semana passada, chocou a sociedade pela brutalidade com que foi cometido e expôs, mais uma vez, a fragilidade da segurança desses profissionais tão importantes para a cidade. O condutor Glauber Vieira foi morto a chutes e murros por dois assaltantes, no Setor Recanto das Águas. Infelizmente, não foi a primeira vez que isso ocorreu e, pelo visto, não será a última.
Recebo constantemente, na Câmara Municipal de Goiânia, queixas dos taxistas e do sindicato da categoria a respeito da violência crescente à qual são submetidos, principalmente no caso daqueles que trabalham à noite e de madrugada. São constantes os assaltos, os furtos e, lamentavelmente, também os assassinatos.
Já perdi a conta de quantas visitas fiz à Secretaria Estadual de Segurança Pública, acompanhado de representantes da categoria, para expor a dimensão do problema e solicitar ações. Também já perdi a conta de quantos convênios foram firmados, com promessas de aumentar o policiamento nas vias mais perigosas à noite.
O que pedimos, basicamente, era que os táxis fossem abordados por policiais à noite, para checar se tudo transcorria tranquilamente dentro do veículo; que a quantidade de policiais presentes nas vias mais movimentadas da cidade fosse elevada e que os casos de assassinato fossem apurados com mais rigor.
Não se trata de querer beneficiar uma parcela específica da população, mas de proteger de forma mais ostensiva profissionais que estão permanentemente expostos aos riscos, que trabalham transportando pessoas que não conhecem e que podem estar com a pior das intenções, podem ser criminosos em potencial.
Infelizmente, as promessas da Secretaria Estadual de Segurança Pública não passaram disso: promessas. Enquanto isso, os taxistas continuam sendo agredidos, lesados, quando não mortos, no exercício das suas funções. A pergunta é: quantos trabalhadores ainda terão de morrer até que se tome providências? 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Teatro dos Vampiros



Os recentes episódios da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira nos mostram que, infelizmente, mais uma vez vamos comer pizza. O deplorável depoimento do governador Marconi Perillo na terça-feira (12/06), que revelou a mais absoluta falta de vontade não apenas do relator Odair Cunha, mas também de seus pares, de obter informações a respeito das ligações do chefe do executivo goiano com o bicheiro Carlos Cachoeira, e a tentativa tácita do interragado de subestimar nossa inteligência e o óbvio dos fatos, são a prova de que todo o trabalho da Comissão não passa de um teatro.
Os parlamentares fingem que questionam os suspeitos de envolvimento em esquemas de corrupção, os depoentes fingem que não sabem de nada, e o povo e os meios de comunicação fingem ter esperança de que dessa vez será diferente. Balela pura. Ao que parece, um acordo entre PSDB, PMDB, PDT e PT vai mesmo blindar os governadores e deputados citados em ligações telefônicas do bicheiro, pois ninguém teria lisura moral suficiente para criticar Cachoeira nem se esquivar de seus tentáculos.
Em seu excelente artigo na revista Caros Amigos de maio, o jornalista José Arbex  Jr. Faz uma lúcida análise da situação e mostra que não adianta termos esperança de que dessa vez será diferente. Ele faz um retrospecto histórico da corrupção no Brasil e explica que ela está muito mais entranhada em nossas vidas do que imaginamos. Mostra o quanto ela é endêmica, arraigada e, o que é pior, o quanto já não parece mais nos causar estranheza. Repetimos o padrão de comportamento da Casa Grande em relação à senzala.
Citando o brilhante sociólogo Souza Martins, o artigo de Arbex diz que “corruptos não são apenas alguns. A maioria dos brasileiros, sem o saber, está envolvida nas tramas da corrupção. É que a corrupção entre nós é endêmica e histórica, impregnou a cultura do povo e está distribuída por praticamente toda a esfera pública. Ela se originou no regime patrimonial que deu nascimento a esta nação: troca de favores materiais por favores políticos, troca de votos por favorecimentos, fazer política negando a igualdade de direitos, o voto como bem material e privado e não como direito que encerra deveres para com o país. A grande corrupção não seria possível se não fosse a expressão da cultura de uma corrupção miúda e cotidiana.”
Enquanto os parlamentares fazem teatro, sugam a energia e a esperança do povo, que de tão acostumado a ver episódios de investigação de casos de corrupção transformados em pizza, fica moribundo e apático, parece não ter mais sangue correndo nas veias. Um verdadeiro Teatro dos Vampiros, como dizia o sábio Renato Russo:
“(...) Esse é o nosso mundo:
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos (...)"

terça-feira, 5 de junho de 2012

Marconi x Fabiana: o tiro no pé do governador



Nada é mais verdadeiro que a frase de Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Um dos principais pilares de um estado democrático é, sem dúvida, o respeito à liberdade de imprensa. Infelizmente, quando aqueles que julgam ter sua honra atingida por ela não possuem mais argumentos para se defender, começam a processar os jornalistas.
A interpelação judicial que o governador Marconi Perillo faz da repórter e articulista do jornal O Popular, Fabiana Pulcinelli, mostra muito bem isso. Ele não gostou dos dois artigos que ela escreveu para o jornal (“O pior não passou” http://bit.ly/KaPNaO  e “Nós somos teus” http://bit.ly/L30Sfq ). Achou que a jornalista estava sendo passional e atentando contra sua suposta idoneidade no embróglio de Carlos Cachoeira. O interessante é que em nenhum momento a jornalista acusa o governador. De nada.
O que Fabiana faz é analisar uma série de denúncias veiculadas por grandes jornais de circulação nacional e políticos, incluindo deputados e senadores. Nada que fosse secreto ou impublicável. É o próprio governador quem se condena, pois, ao tentar intimidar a jornalista, mostra que tem medo do que ela diz e dá a entender que tem algo grave a esconder. Sempre pensei que Marconi entendesse de marketing, mas estou revendo seriamente meus conceitos. 
Calar Fabiana Pulcineli à força? Embora muitos não gostem da moça – temida no meio político por seu estilo direto, duro e sem delongas -- , há que se reconhecer: contra a lisura moral e profissional da jornalista não há nada, absolutamente nada que conste ou pese.Tentem provar que Fabiana recebeu propina ou benefícios de algum figurão da política ou empresário. Tentem provar que a declaração de bens da moça não bate. Tentem divulgar alguma conversa suspeita dela com qualquer contraventor. Não vão conseguir achar nada. Pelo simples fato de que não há nada. Já em relação ao governador... Bem, com relação a ele, as centenas de denúncias na CPMI, nas matérias da Folha de São Paulo, do Estado de São Paulo, de O Globo, Veja e Isto É não mostram o mesmo.
A interpelação judicial de Fabiana Pulcineli foi um erro grave. Gente que nunca havia lido os dois artigos, além de ler ainda começou a divulgá-los pelas redes sociais e por e-mail. O que era local, agora é viral. Aprenda, governador: a democracia não serve apenas para nos eleger. Ela também nos obriga a conviver e respeitar o contraditório, o diferente. Falo isso com conhecimento de causa, com o lombo machucado de tanto apanhar de determinados veículos de comunicação. Ruim com liberdade de imprensa, governador, bem pior sem ela.