quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O boêmio mais talentoso do Brasil

Essa semana quero retratar a vida de um grande artista, que com suas letras e talento engrandeceu de maneira significativa a Música Popular Brasileira. Falo do sublime Noel Rosa, boêmio inveterado, mulherendo incorrigível e músico de primeira. Uma exposição sobre sua vida segue até sábado, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). Se estivesse vivo, completaria 101 anos de idade:



1- Noel Rosa nasceu de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula (provável Sindrome de Pierre-Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular;





 2-    Criado no bairro carioca de Vila Isabel, primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento;



3-    Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito;

4-    Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Essa música ele se inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele, com pressa perguntou: "Com que roupa eu vou?";


5-    Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o "rei das letras". Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica (Noel Rosa X Wilson Batista) travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida;



6-    Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com uma moça da alta sociedade, Lindaura, mas era apaixonado mesmo por Ceci (Juraci Correia de Araújo), a prostituta do cabaré, sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música Dama do cabaré, inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso com ela, eles se encontravam no cabaré a noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam, andavam principalmente pelo bairro carioca da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe presentes, joias, perfumes e ela o compensava com noites inesquecíveis de amor;


7-    Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, à bebida e o cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes;


8-    Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, lá, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto, e não pôde mais ter filhos, por isso Noel não foi pai. Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro";


9-    Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na boêmia;


10- De volta ao Rio, jurou estar curado, mas faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia desde sempre. Deixou sua esposa viúva e desesperada. Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, sua mãe, cuidaram de Noel até o fim.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Saudades da Pimentinha


Elis Regina é um ícone para mim. Tanto assim, que dei à minha filha o nome dessa artista extraordinária, de talento imenso. A cantora Maria Rita, filha de Elis, anunciou para o ano que vem a realização de uma série de shows nos quais interpretará canções da mãe. Em 2012, completam-se 30 anos da morte da “Pimentinha”. Confira alguns detalhes da vida de uma das maiores intérpretes da MPB:

1-      Elis Regina Carvalho da Costa nasce em Porto Alegre, no dia 17 de março de 1945. Aos 11 anos, apresentou-se na Rádio Farroupilha, da mesma cidade, cantando no programa Clube do Guri. 

2-      Em 1959, foi contratada como cantora pela Rádio Gaúcha. No ano seguinte, viajou para o Rio de Janeiro e, após algumas apresentações na televisão, em 1961 gravou Viva a brotolândia, LP da Continental, no qual interpreta caplypsos e rocks, regressando depois a Porto Alegre. Em 1962, esteve duas vezes no Rio para gravar dois discos de bolero da CBS e, em abril de 1964, transferiu-se definitivamente para a capital carioca, onde assinou contrato de seis meses com a TV-Rio. 



3-      Convidada pelo baterista Dom Um, começou a se apresentar na boate Bottle’s, em Copacabana, onde foi ouvida pelo produtor Armando Pittigliani, da Phillips, que em outubro a contratou. No final de 1964, esteve em São Paulo, participando de vários shows de bossa nova no Teatro Paramount. 


4-      Em fevereiro de 1965, lançou um compacto pela Phillips, que incluía Menino das laranjas (Teo de Barros) e Sou sem paz (Adilson Godói). Em seguida, também na Phillips, gravou o LP Eu canto assim. Projetou-se nacionalmente como cantora em abril de 1965, quando venceu o 1º FMPB, da TV Excelsior, de São Paulo, intepretando Arrastão (Edu  Lobo e Vinícius de Moraes).



5-      Logo depois, gravou ao vivo com Jair Rodrigues (em show produzido por Walter Silva, no Teatro Paramount, em São Paulo) o LP Dois na bossa, lançado pela Phillips. Transformou-se em recordista nacional de vendas.


6-      De 1965 a 1967 apresentou, com Jair Rodrigues, o programa O fino da bossa. Em 1967, apresentou-se com  grande sucesso na França, em Paris e Cannes, interpretando canções como Upa neguinho (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri).  Ainda em 1967 casou-se com Ronaldo Boscoli, com quem teve um filho, João Marcelo. Em 1968, fez uma turnê pela América do Sul e depois pela Europa. De volta ao Brasil, estreou no show Elis, Mieli e... Boscoli, no Rio de Janeiro. Em 1970, iniciou temporada no Canecão, no Rio de Janeiro, e depois lançou o enorme sucesso Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Sousa). 


7-      Em 1971 estreou o programa Som Livre exportação, na Globo, e excursionou pela Europa, chegando mais uma vez às paradas com Casa no campo (Tavito e Zé Rodrix). 



8-      Em 1972, separou-se de Ronaldo Boscoli e gravou Águas de março (Tom Jobim). Em 1973, fez novo LP, no qual lançou Folhas secas (Nelson Cavaquinho) e outros sucessos. Em 1974, lançou o LP Tom e Elis e, no fim do ano, lançou o  LP Elis, com arranjos de Cesar Camargo Mariano, seu segundo marido.  O disco incluiu grandes sucessos, como Dois pra lá dois pra cá (João Bosco e Aldir Blanc).


9-      Em 1975 apresentou-se no show Falso brilhante, obtendo enorme sucesso de público e crítica e lançando mais um compositor desconhecido: Belchior, de quem gravou Como nossos pais. 


10-   Em 1977, gravou Romaria de Renato Teixeira. Em 1979, lançou com estrondoso sucesso a música O bêbado e o equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. Excursionou com imenso sucesso pelo exterior e pelo Brasil. Em 1981, decidiu se casar com o advogado Samuel McDowell. Pouco mais de um mês, em janeiro de 1982, morreu em São Paulo, em conseqüência de uma overdose causada por mistura de drogas. 



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O incrível mundo de Suassuna



Compartilho com vocês um pouco da história e da obra do genial Ariano Suassuna. Autor do Auto da compadecia e A pedra do reino, trata-se de um escritor genial por seu talento e polêmico, por suas posições firmes e destemidas. Confira:

1-     Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan.Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.



2-      A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte.



3-      Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.




4-      Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.




5-      Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPe. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.


 
6-      Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes (1994-1998).




7-      Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.


  
8-      Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000). Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.

 
9-      Sexto ocupante da Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras, foi eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. 

10 Veja algumas frases geniais de Ariano Suassuna:
"A humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados."

"Sou a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando as peculiaridades locais e nacionais".


"Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa".


"Jamais falei mal de Molière, mas querer que eu aceite Elvis Presley já é demais".

"A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio."


"… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos."

"Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas"


"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."

"Eu digo sempre que das três virtudes teologais , sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança."


"Depois que eu vi num hotel em São Paulo um show de rock pela televisão, nunca mais eu critiquei os cantores medíocres brasileiros. Qualquer porcaria como a Banda Calypso ainda é melhor que qualquer banda de rock."


"Não tenho medo de andar de avião como muitos dizem. O que eu tenho é tédio. Não agüento mais olhar aquelas aeromoças fazendo um teatro mímico para mostrar aos passageiros como usar às máscaras de oxigênio em caso de despressurização, e a porta de emergência."


"Em vez de porta-aviões, os americanos hoje mandam Michael Jackson e Madonna para dominar o Brasil."


“Na pré-história, os cavalos comiam só mato e os homens começaram a comer carne. A evolução trouxe a raça humana até aqui e os cavalos continuam sendo vegetarianos até hoje. É por isso que nunca parei de comer carne.”


"Em redor do buraco tudo é beira!"* frase lembrada pelo Gudim, e que acabou servindo de mote para o "funk do Suassuna", disponível no youtube.



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

80 anos de João Gilberto


Neste ano, o grande intérprete e compositor João Gilberto completa 80 anos. A turnê de comemoração do aniversário, que deveria começar neste sábado, 05/11, em São Paulo, foi adiada para dezembro, em função de uma forte gripe que acometeu o artista e o impede de cantar. Compartilho alguns detalhes da vida desse grande mestre, que não apenas fez da bossa nova um estilo conhecido mundialmente, como também enriqueceu de maneira significativa nossa cultura musical:
1-    Baiano, João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira nasceu em 10 de junho de 1931. Depois de atuar como crooner em Salvador foi para o Rio de Janeiro, em 1949, onde passou a atuar como solista do conjunto vocal Garotos da Lua.

2-    Depois de atuar no Garotos da Lua, foi contratado como violonista pela CBS para o acompanhamento de gravações. Em abril de 1958, Elisete Cardoso gravou para o selo Festa o LP Canção do amor demais. Em duas faixas desse disco – Chega de saudade e Outra vez – foi acompanhador ao violão, lançando o estilo que viria caracterizar a bossa nova: acentuação no tempo fraco e alteração de acordes de passagem, que no samba e no choro sempre eram característicos da harmonização.



3-    Em julho de 1958, o cantor gravou na Odeon um 78 rpm, com Chega de saudade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Bim-bom (de sua autoria). O disco chamou a atenção imediatamente, pois o estilo de cantar, intimista, contrastava totalmente com a maneira da época. Em novembro, lançou Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça) e Oba-la-lá (de sua autoria). Desafinado seria uma espécie de hino da bossa nova, pois fazia referência direta ao novo estilo e já combatia as críticas que afirmavam que os cantores de bossa nova desafinavam ao cantar.



4-    Em 1959, produzido por Aluísio de Oliveira, arranjado por Tom Jobim e gravado na Odeon, saiu em março o LP Chega de saudade. Além das músicas já citadas, João Gilberto cantava velhos sucessos, como Morena boca de ouro (Ari Barroso e Luís Peixoto), Rosa Morena (Dorival Caymmi) e Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda). Lançava, então, novos compositores, como Carlos Lira e Ronaldo Boscoli, com Lobo bobo. A partir disso, o cantor passou a se apresentar nos shows para divulgação da bossa nova.



5-    O segundo LP de João Gilberto saiu em 1960, gravado na Odeon, tendo por título O amor, o sorriso e a flor. Apresentava nesse disco o Samba de uma nota só (Tom Jobim e Newton Mendonça), que fez sucesso e se tornou outra das músicas de referência do movimento, e o samba Outra vez, já gravado por Dick Farney, na Continental (1954) e por Elisete Cardoso, na Festa (1958). Basta ouvir as três gravações para se ter uma ideia da mudança ocorrida na arte de cantar e tocar.


6-    No seu terceiro disco, retomou outra vez velhos sucessos, como Samba da minha terra e Saudade da Bahia (ambas de Dorival Caymmi), dando-lhes nova feição. O disco teve acompanhamento a cargo do conjunto de Walter Wanderley e foi lançado pela Odeon  em setembro de 1961. Era intitulado João Gilberto e lançou uma música que foi verdadeiro sucesso de vendas e gravações no exterior: O barquinho, de Roberto Menescal e Ronaldo Boscoli.


7-    Em 1962, João Gilberto seguiu com a comitiva que se apresentou no Carnegie Hall, fixando residência em Nova York (EUA). Gravou com Stan Getz um LP na Verve que ficou nas prateleiras da fábrica por um ano. Acompanhado por João Donato (piano), Gusmão (baixo) e Milton Banana (bateria), excursionou pela Europa, quando se manifestou, então, o espasmo muscular que o impediria de tocar por algum tempo.



8-    Em 1964, a Verve lançou, enfim, o disco gravado com Stan Getz, que se tornou um dos 25 LPs mais vendidos do ano, atingindo 1 milhão de exemplares.  Pelo disco, recebeu seis Grammys (importante prêmio no mundo da música) e passou a ser considerado um dos violonistas mais respeitados dos EUA. De volta ao Brasil, em 1965, fez uma curta temporada, que se limitou à uma apresentação no programa O Fino da Bossa. João Gilberto apresentou em dezenas de países da Europa, Estados Unidos e Ásia, tornando-se um ícone da bossa nova e da música brasileira no mundo.   

9-    João Gilberto também tornou-se conhecido por suas manias. O jornalista Ruy Castro escreveu sobre as esquisitices do artista no livro “A onda que se ergue no mar” (Companhia das Letras). Em determinado trecho, diz o seguinte:
 Tem hábitos fixos. Acorda às cinco horas (da tarde), almoça quase meia-noite e janta às sete (da manhã). João Gilberto odeia alterações em sua rotina.
Liga para o mesmo garçom, pergunta se tem alguma novidade no cardápio e, seja qual for a resposta, pede um steak ao sal grosso.
A comida é entregue por um copeiro através de uma porta entreaberta que depois pega os pratos que ficam no chão do corredor de entrada (sempre com uma generosa gorjeta). O detalhe é que o copeiro faz o mesmo serviço há anos e mesmo assim nunca o viu.
 João Gilberto não tem faxineira. Uma vez por mês o próprio João Gilberto faz a faxina. O lustre da sala está para cair, pois o cantor não deixa eletricista entrar no apartamento.

10- A filha de João Gilberto e da cantora Miúcha, Bebel Gilberto, seguiu os passos dos pais. Nesse caso, o talento é realmente um dom de família.


  Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira (Publifolha)