sexta-feira, 4 de novembro de 2011

80 anos de João Gilberto


Neste ano, o grande intérprete e compositor João Gilberto completa 80 anos. A turnê de comemoração do aniversário, que deveria começar neste sábado, 05/11, em São Paulo, foi adiada para dezembro, em função de uma forte gripe que acometeu o artista e o impede de cantar. Compartilho alguns detalhes da vida desse grande mestre, que não apenas fez da bossa nova um estilo conhecido mundialmente, como também enriqueceu de maneira significativa nossa cultura musical:
1-    Baiano, João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira nasceu em 10 de junho de 1931. Depois de atuar como crooner em Salvador foi para o Rio de Janeiro, em 1949, onde passou a atuar como solista do conjunto vocal Garotos da Lua.

2-    Depois de atuar no Garotos da Lua, foi contratado como violonista pela CBS para o acompanhamento de gravações. Em abril de 1958, Elisete Cardoso gravou para o selo Festa o LP Canção do amor demais. Em duas faixas desse disco – Chega de saudade e Outra vez – foi acompanhador ao violão, lançando o estilo que viria caracterizar a bossa nova: acentuação no tempo fraco e alteração de acordes de passagem, que no samba e no choro sempre eram característicos da harmonização.



3-    Em julho de 1958, o cantor gravou na Odeon um 78 rpm, com Chega de saudade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Bim-bom (de sua autoria). O disco chamou a atenção imediatamente, pois o estilo de cantar, intimista, contrastava totalmente com a maneira da época. Em novembro, lançou Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça) e Oba-la-lá (de sua autoria). Desafinado seria uma espécie de hino da bossa nova, pois fazia referência direta ao novo estilo e já combatia as críticas que afirmavam que os cantores de bossa nova desafinavam ao cantar.



4-    Em 1959, produzido por Aluísio de Oliveira, arranjado por Tom Jobim e gravado na Odeon, saiu em março o LP Chega de saudade. Além das músicas já citadas, João Gilberto cantava velhos sucessos, como Morena boca de ouro (Ari Barroso e Luís Peixoto), Rosa Morena (Dorival Caymmi) e Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda). Lançava, então, novos compositores, como Carlos Lira e Ronaldo Boscoli, com Lobo bobo. A partir disso, o cantor passou a se apresentar nos shows para divulgação da bossa nova.



5-    O segundo LP de João Gilberto saiu em 1960, gravado na Odeon, tendo por título O amor, o sorriso e a flor. Apresentava nesse disco o Samba de uma nota só (Tom Jobim e Newton Mendonça), que fez sucesso e se tornou outra das músicas de referência do movimento, e o samba Outra vez, já gravado por Dick Farney, na Continental (1954) e por Elisete Cardoso, na Festa (1958). Basta ouvir as três gravações para se ter uma ideia da mudança ocorrida na arte de cantar e tocar.


6-    No seu terceiro disco, retomou outra vez velhos sucessos, como Samba da minha terra e Saudade da Bahia (ambas de Dorival Caymmi), dando-lhes nova feição. O disco teve acompanhamento a cargo do conjunto de Walter Wanderley e foi lançado pela Odeon  em setembro de 1961. Era intitulado João Gilberto e lançou uma música que foi verdadeiro sucesso de vendas e gravações no exterior: O barquinho, de Roberto Menescal e Ronaldo Boscoli.


7-    Em 1962, João Gilberto seguiu com a comitiva que se apresentou no Carnegie Hall, fixando residência em Nova York (EUA). Gravou com Stan Getz um LP na Verve que ficou nas prateleiras da fábrica por um ano. Acompanhado por João Donato (piano), Gusmão (baixo) e Milton Banana (bateria), excursionou pela Europa, quando se manifestou, então, o espasmo muscular que o impediria de tocar por algum tempo.



8-    Em 1964, a Verve lançou, enfim, o disco gravado com Stan Getz, que se tornou um dos 25 LPs mais vendidos do ano, atingindo 1 milhão de exemplares.  Pelo disco, recebeu seis Grammys (importante prêmio no mundo da música) e passou a ser considerado um dos violonistas mais respeitados dos EUA. De volta ao Brasil, em 1965, fez uma curta temporada, que se limitou à uma apresentação no programa O Fino da Bossa. João Gilberto apresentou em dezenas de países da Europa, Estados Unidos e Ásia, tornando-se um ícone da bossa nova e da música brasileira no mundo.   

9-    João Gilberto também tornou-se conhecido por suas manias. O jornalista Ruy Castro escreveu sobre as esquisitices do artista no livro “A onda que se ergue no mar” (Companhia das Letras). Em determinado trecho, diz o seguinte:
 Tem hábitos fixos. Acorda às cinco horas (da tarde), almoça quase meia-noite e janta às sete (da manhã). João Gilberto odeia alterações em sua rotina.
Liga para o mesmo garçom, pergunta se tem alguma novidade no cardápio e, seja qual for a resposta, pede um steak ao sal grosso.
A comida é entregue por um copeiro através de uma porta entreaberta que depois pega os pratos que ficam no chão do corredor de entrada (sempre com uma generosa gorjeta). O detalhe é que o copeiro faz o mesmo serviço há anos e mesmo assim nunca o viu.
 João Gilberto não tem faxineira. Uma vez por mês o próprio João Gilberto faz a faxina. O lustre da sala está para cair, pois o cantor não deixa eletricista entrar no apartamento.

10- A filha de João Gilberto e da cantora Miúcha, Bebel Gilberto, seguiu os passos dos pais. Nesse caso, o talento é realmente um dom de família.


  Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira (Publifolha)

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